sexta-feira, setembro 14, 2007

all mixed up

Sexta feira é sempre assim. Eu chego exausta, um caco, me arrasto pelos cantos e cochilo sentada tentando ser o mais discreta possível. Dizem que quanto mais a gente sofre mais se é merecedor de salvação. Eu estou esperando pela minha, porque atualmente tenho andado na linha, pela primeira vez na vida, e ainda não ganhei nada com isso, muito pelo contrário.

Eu acordo todo dia às 6 da manhã. Eu caminho aproximadamente 30 minutos. Eu atravesso nas faixas e às vezes fico tão dispersa que perco os sinais na calçada. Depois disfarço e finjo que estou esperando alguém. Eu assisto às aulas. E dessa vez assisto mesmo, não fico mais pelos corredores fumando ou na biblioteca lendo ou no colchão de casa sonhando. Eu xeroco os textos, eu anoto os lembretes, eu tenho uma maldita agenda. Eu me vendi. Eu faço perguntas na sala de aula. Eu respondo a sorrisos, eu guardo lugar na sala. Eu passo hidratantes, tomo os remédios, tomo banho, leio durante as refeições e almoço um salgado ruim demais de ricota a caminho do trabalho. Eu corro. Saio às 12:40 e preciso estar em 20 minutos no trabalho. Movimentar-se com um copo de refrigerante e um salgado e uma pasta e uma bolsa maxi nos braços não é a coisa mais fácil, deveria até entrar para a categoria olímpica. Eu chego no trabalho. Com calor, mas dou boa tarde. Eu escovo os dentes e rezo e passo os cinco minutos iniciais da tarde respirando fundo, me preparando. Tá foda, mas a gente agüenta. Eu trabalho. Eu às vezes finjo que trabalho, eu bebo água. E não como nada na hora do lanche, parece loucura mas queria perder mais um quilo esse mês. As horas se arrastam até as cinco da tarde. Sou britânica. Cinco e um e a minha cadeira está vazia. Cinco e cinco eu estou atravessando as ruas – não mais na faixa porque a minha paciência acabou. Eu compro pão fresco. Eu chuto pedras até em casa. Eu passo por meio aos escombros e desvio das nuvens de poeira. Meu cabelo anda duro, não adianta lavar. A poeira está impregnada em mim. Eu estou toda em desuso. Na prateleira, esperando. Criando pó. Eu encontro os meus livros dentro das caixas, as minhas roupas entulhadas e as coisas todas nos sacos. Fico triste. Eu tento ler e me distraio. Eu tento comer, mas não quero. Eu tenho chorar, mas só sai pó. Eu só posso esperar. Esperar. Esperar. Esperar. Esperar a obra acabar, a faculdade terminar, as minhas idéias morrerem e darem lugar a outras. Esperar.

Até cansar.
Mas já cansou.
E agora?

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